quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

Indisciplina escolar: reflexões do Subprojeto de Pedagogia

Linha Temática: PIBID: Desafios e Perspectivas



Indisciplina escolar: reflexões do Subprojeto de Pedagogia

Cíntia Damasceno Farias¹
¹Bolsista de Iniciação à Docência do Subprojeto de PedagogiaEnsino Fundamental Anos Iniciais
Elane Porto Campos²
²Bolsista de Iniciação à Docência do Subprojeto de PedagogiaEnsino Fundamental Anos Iniciais
Profª Drª Ennia Débora passos Braga Pires³
³Coordenadora do Subprojeto de Pedagogia Ensino Fundamental Anos Iniciais

Introdução

A indisciplina é um aspecto presente no cotidiano escolar, um fator que se apresenta como mais um desafio para o professor desenvolver uma prática pedagógica significativa. Este artigo tem por objetivo relatar experiências vivenciadas como bolsistas do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação a docência (PIBID), quando, por várias vezes, a indisciplina foi a protagonista das aulas. Intentar, pois, expor como os bolsistas atuaram frente a esse desafio e descrever como a afetividade ajudou a superá-los.
No levantamento bibliográfico foram utilizados autores como Rego (1996) que discute a indisciplina e o processo educativo, Silva (2004) que em seus estudos, traz esclarecimentos sobre ética, indisciplina e violência nas escolas, dentre outros estudiosos de tema.
 O PIBID proporciona a oportunidade do licenciando presenciar a realidade do ambiente escolar a partir de uma ótica mais próxima, podendo exercer a docência compartilhada, fazer observações, estudos e pesquisas na esfera que está inserido tendo como embasamento as próprias experiências vivenciadas no decorrer do programa, além de ter o respaldo das reuniões de estudos uma vez por semana com supervisores e coordenadores, propiciando um maior envolvimento com as questões observadas e debatidas no contexto educacional.
Embora o PIBID propicie oportunidades do estudante de licenciatura atuar em sala de aula, esta não é uma tarefa simples, pois, o bolsista se depara com inúmeros desafios. Este artigo evidenciará um obstáculo presente tanto em escolas da rede pública quanto da rede privada, a indisciplina: Decorre daí ações que incomodam tanto o professor, devido às situações desagradáveis que provocam, como os próprios alunos, já que não são todos que participam ou que manifestam atos indisciplinares.

Metodologia

O estudo foi realizado tendo como escopo as vivências enquanto bolsista de iniciação a docência do subprojeto de Pedagogia no Centro Educacional Ismael Cruz Lima, na cidade de Itapetinga-BA, durante o ano letivo de 2014.
A metodologia realizada neste trabalho foi de caráter qualitativo, utilizando-se da observação, descrição, registro e análise das experiências e fatos ocorridos no período do projeto “A leitura como instrumento no processo de construção da cidadania”.
Para interpretação e análise dos dados, buscamos o aporte teórico em alguns autores como: Rego (1996), que discute a indisciplina e o processo educativo na perspectiva vygostskiana;Silva (2004) que traz a discussão sobre ética, indisciplina e violência nas escolas, e Luís (2004) que ressalta a questão da formação docente inicial e continuada.

Resultados e Discussão

A experiência no PIBID permite ao bolsista presenciar momentos que fazem parte do contexto escolar, dentre estes a indisciplina, considerando que é um aspecto constantemente presente nas escolas de educação básica. O programa oportuniza ao bolsista atuar frente a mais esta dificuldade antes da inserção profissional, o que dá subsídios para construção de uma formação mais sólida e competente.
A indisciplina é um entrave nas práticas pedagógicas dos professores tanto iniciantes quanto experientes, pois, é um problema que tem aumentado gradativamente na realidade das escolas brasileiras. Para os bolsistas do PIBID este problema tem uma dimensão maior, visto que, os alunos diferenciam a autonomia do professor regente com a do bolsista de iniciação a docência, já que este último não faz parte do corpo docente da instituição, assim sendo, os alunos não respeitam, não obedecem e nem querem fazer as atividades.
Neste estudo, a indisciplina é considerada de acordo com Rego (1996 p. 85);

a indisciplina, manifestada por um indivíduo ou grupo, é como um comportamento inadequado, um sinal de rebeldia, intransigência, desacato, traduzida na “falta de educação ou de respeito pelas autoridades”, na bagunça ou agitação motora.

Com a participação no PIBID foi possível presenciar semanalmente comportamentos que por várias vezes atrapalhou o desenvolvimento dos alunos, desviando a atenção dos colegas e comprometendo o entendimento das explicações prévias às atividades, acarretando em rendimento baixo nas avaliações da aprendizagem.
Durante as primeiras aulas deste ano letivo presenciamos atos indisciplinares que nos angustiava, não só pelo fato dos alunos “indisciplinares” atrapalharem seus colegas nas atividades, mas também porque os alunos se mostravam desinteressados com as tarefas propostas. Enquanto uns se esforçavam para aprender, outros brincavam em hora inoportuna, conversavam excessivamente, saiam sem permissão, faziam balbúrdia, falando alto ou gritando e, as vezes, se recusando até a fazer as atividades.
Diante dessas constatações, fomos intentadas a amenizar o problema para continuar com o projeto e para ajudar aqueles alunos, afinal, à imersão no contexto escolar nos permite aprender como atuar nestas situações. Segundo Luís (2012, p. 21), “o futuro professor deverá desenvolver sua habilidade de observação, de análise crítica e de busca de soluções, fundamental para um profissional com sensibilidade suficiente para saber atuar face ao cotidiano em que está inserido”. Nessa perspectiva, o futuro docente deve buscar soluções para os problemas percebidos na escola.
Após, observações, observações, socializações e debates nas reuniões semanais de estudo, tivemos a ideia de nos aproximar ainda mais dos alunos indisciplinados para mostrar que estávamos na escola para aprender de forma harmoniosa. Procuramos então, modificar nossa forma de lidar com os “bagunceiros”, visto que percebemos que eles queriam a todo custo chamar a atenção. Então, os colocamos em posição de evidência, procurando elogiar a participação deles nas atividades, evitando o foco reclamações a respeito do comportamento. Kramer (2008) destaca a relevância do tratamento afetivo em sala de aula, na garantia de ralações mais harmoniosas. Segundo a autora,

A afetividade exerce influência sobre o comportamento dos alunos, pois, uma relação professor/aluno baseada em sentimentos de confiança, respeito e admiração favorece o estabelecimento de um ambiente escolar afetuoso e, consequentemente, promove a disciplina em sala de aula (KRAMER, 2008, p. 47).

Embora cada bolsista atue em salas diferentes a realidade da escola é semelhante a ponto de poderem compartilhar uma nova metodologia, adotada após análise do contexto escolar, quando percebemos que a maioria dos alunos “indisciplinados” não se adaptava a organização do trabalho pedagógico e estava querendo chamar a atenção para impor e expor suas discordâncias. Silva (2004, p. 189) esclarece que “em síntese, tais indivíduos são indisciplinados e violentos por não concordarem com a maneira como o professor está transmitindo o saber”.
Com intuito de modificar esta realidade buscamos trabalhar o projeto “A leitura como instrumento no processo de construção da cidadania”,com atividades lúdicas e mais dinâmicas que permitissem aos alunos extravasar e descarregar parte da energia acumulada, ao mesmo tempo em que aprendiam os conteúdos escolares e a respeitar regras de convivência social e grupal.
O projeto teve como objetivo geral: “Desenvolver habilidades relacionadas à leitura, interpretação e produção textual, estimulando no educando o gosto pela leitura e escrita, ampliando o conhecimento linguístico e cultural dos mesmos, contribuindo dessa forma para a formação de valores e para a construção da cidadania”.
Uma das atividades que elaboramos para trabalhar na escola foi em comemoração ao dia do “folclore”, preparamos apresentações com trava línguas, provérbios, adivinhações, brincadeiras, cantigas e histórias para apresentar para os alunos. Foi muito interessante, percebemos que eles gostaram, inclusive os professores que continuaram utilizando algumas atividades em suas aulas, já que os alunos se mostravam interessados e, portanto, mais participativos e menos indisciplinados.
Durante as intervenções, o que mais atrapalhava o desenvolvimento,como já foi citado, era a indisciplina, visto que os alunos ficavam todo o tempo, conversando, brincando, bagunçando, e chegavam até a serem agressivos uns com os outros. Para tentar estabelecer uma boa relação com eles, procuramos nos basear na afetividade, colocando os que percebíamos que davam mais trabalho, para se ocupar com alguma tarefa.
Nossa intenção era fazer com que todos se envolvessem nos trabalhos propostos, e acreditamos que, apesar de todas as dificuldades encontradas, conseguimos desenvolver satisfatoriamente as atividades. Havia sempre o objetivo de realizar atividades que fossem dinâmicas para despertar e prender a atenção dos alunos, para minimizar a ocorrência da indisciplina.

Considerações Finais

É preocupante a situação dos alunos que pouco se comprometem com os estudos, pois, muitos deles só estudam na escola e não possuem acompanhamento familiar nas atividades escolares. E, não por acaso, não raras vezes são os pais dos alunos mais “indisciplinados” que não fazem um acompanhamento de como tem sido o desempenho do filho na escola. São, por isso, geralmente, crianças carentes de afeto e atenção familiar cuja origem não cabe neste estudo abordar.
O PIBID permite ao bolsista refletir sobre a práxis pedagógica, sendo assim, é possível inferir que, as atividades desenvolvidas ao longo do projeto foram significativas, visto que, ocorreram situações de aprendizagens enriquecedoras entre bolsistas, professores e alunos, e o enfrentamento exitoso das dificuldades encontradas, especialmente no que se refere a indisciplina.
Salientamos, por fim, que a participação no PIBID permitiu uma reflexão acerca da indisciplina como fator a ser superado em sala de aula para que o professor possa desenvolver sua prática de maneira satisfatória, visto que,antes de iniciar a aula é comum o educador perder muito tempo somente para organizar a turma. Percebemos que a aproximação direta do professor com os educandos de forma afetiva contribuiu efetivamente para a redução da indisciplina nos momentos de atuação dos bolsistas em sala de aula ou em oficinas pedagógicas.

Referências

LUÍS, Suzana M. B. Da formação à ação: o PIBID-UFAL como processo reflexivo da formação docente inicial e continuada. IN: SANTOS, L. de F.; SILVA, S. R. P. da; LUÍS, S. M. B. (orgs.). Universidade e Escola: diálogos sobre formação docente. Recife: Ed. Universitária da UFPE, 2012.

KRAMER, Sonia. Alfabetização, leitura e escrita: Formação de professores em curso. São Paulo:Ática, 2008.

SILVA, Silva. Ética, indisciplina e violência nas escolas.3 ed. Petrópolis, Rio de Janeiro: Vozes, 2004.


REGO. T. C. A indisciplina e o processo educativo: uma análise na perspectiva vygostskiana. In: AQUINO, J. G. (Org.). Indisciplina na escola: alternativas teóricas e práticas. São Paulo: Summus, 1996.

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