Linha Temática: PIBID: Desafios e Perspectivas
Cíntia
Damasceno Farias¹
¹Bolsista
de Iniciação à Docência do Subprojeto de PedagogiaEnsino Fundamental Anos
Iniciais
Elane Porto
Campos²
²Bolsista
de Iniciação à Docência do Subprojeto de PedagogiaEnsino Fundamental Anos
Iniciais
Profª Drª Ennia
Débora passos Braga Pires³
³Coordenadora
do Subprojeto de Pedagogia Ensino Fundamental Anos Iniciais
Introdução
A indisciplina é um aspecto presente
no cotidiano escolar, um fator que se apresenta como mais um desafio para o
professor desenvolver uma prática pedagógica significativa. Este artigo tem por
objetivo relatar experiências vivenciadas como bolsistas do Programa
Institucional de Bolsa de Iniciação a docência (PIBID), quando, por várias
vezes, a indisciplina foi a protagonista das aulas. Intentar, pois, expor como
os bolsistas atuaram frente a esse desafio e descrever como a afetividade
ajudou a superá-los.
No levantamento bibliográfico
foram utilizados autores como Rego (1996) que discute a indisciplina e o
processo educativo, Silva (2004) que em seus estudos, traz esclarecimentos
sobre ética, indisciplina e violência nas escolas, dentre outros estudiosos de
tema.
O PIBID proporciona a oportunidade do
licenciando presenciar a realidade do ambiente escolar a partir de uma ótica
mais próxima, podendo exercer a docência compartilhada, fazer observações,
estudos e pesquisas na esfera que está inserido tendo como embasamento as
próprias experiências vivenciadas no decorrer do programa, além de ter o
respaldo das reuniões de estudos uma vez por semana com supervisores e
coordenadores, propiciando um maior envolvimento com as questões observadas e
debatidas no contexto educacional.
Embora o PIBID propicie
oportunidades do estudante de licenciatura atuar em sala de aula, esta não é
uma tarefa simples, pois, o bolsista se depara com inúmeros desafios. Este
artigo evidenciará um obstáculo presente tanto em escolas da rede pública
quanto da rede privada, a indisciplina: Decorre daí ações que incomodam tanto o
professor, devido às situações desagradáveis que provocam, como os próprios
alunos, já que não são todos que participam ou que manifestam atos
indisciplinares.
Metodologia
O
estudo foi realizado tendo como escopo as vivências enquanto bolsista de
iniciação a docência do subprojeto de Pedagogia no Centro Educacional Ismael
Cruz Lima, na cidade de Itapetinga-BA, durante o ano letivo de 2014.
A
metodologia realizada neste trabalho foi de caráter qualitativo, utilizando-se
da observação, descrição, registro e análise das experiências e fatos ocorridos
no período do projeto “A leitura
como instrumento no processo de construção da cidadania”.
Para
interpretação e análise dos dados, buscamos o aporte teórico em alguns autores
como: Rego (1996), que discute a indisciplina e o processo educativo na perspectiva vygostskiana;Silva (2004) que traz a discussão sobre ética,
indisciplina e violência nas escolas, e Luís (2004) que ressalta a questão da formação docente inicial e continuada.
Resultados e Discussão
A experiência no PIBID permite
ao bolsista presenciar momentos que fazem parte do contexto escolar, dentre
estes a indisciplina, considerando que é um aspecto constantemente presente nas
escolas de educação básica. O programa oportuniza ao bolsista atuar frente a
mais esta dificuldade antes da inserção profissional, o que dá subsídios para
construção de uma formação mais sólida e competente.
A indisciplina é um entrave
nas práticas pedagógicas dos professores tanto iniciantes quanto experientes,
pois, é um problema que tem aumentado gradativamente na realidade das escolas
brasileiras. Para os bolsistas do PIBID este problema tem uma dimensão maior,
visto que, os alunos diferenciam a autonomia do professor regente com a do
bolsista de iniciação a docência, já que este último não faz parte do corpo
docente da instituição, assim sendo, os alunos não respeitam, não obedecem e
nem querem fazer as atividades.
Neste estudo, a indisciplina é
considerada de acordo com Rego (1996 p. 85);
a
indisciplina, manifestada por um indivíduo ou grupo, é como um comportamento
inadequado, um sinal de rebeldia, intransigência, desacato, traduzida na “falta
de educação ou de respeito pelas autoridades”, na bagunça ou agitação motora.
Com a participação no PIBID
foi possível presenciar semanalmente comportamentos que por várias vezes
atrapalhou o desenvolvimento dos alunos, desviando a atenção dos colegas e
comprometendo o entendimento das explicações prévias às atividades, acarretando
em rendimento baixo nas avaliações da aprendizagem.
Durante as
primeiras aulas deste ano letivo presenciamos atos indisciplinares que nos
angustiava, não só pelo fato dos alunos “indisciplinares” atrapalharem seus
colegas nas atividades, mas também porque os alunos se mostravam
desinteressados com as tarefas propostas. Enquanto uns se esforçavam para
aprender, outros brincavam em hora inoportuna, conversavam excessivamente,
saiam sem permissão, faziam balbúrdia, falando alto ou gritando e, as vezes, se
recusando até a fazer as atividades.
Diante dessas
constatações, fomos intentadas a amenizar o problema para continuar com o
projeto e para ajudar aqueles alunos, afinal, à imersão no contexto escolar nos
permite aprender como atuar nestas situações. Segundo Luís (2012, p. 21), “o
futuro professor deverá desenvolver sua habilidade de observação, de análise
crítica e de busca de soluções, fundamental para um profissional com
sensibilidade suficiente para saber atuar face ao cotidiano em que está
inserido”. Nessa perspectiva, o futuro docente deve buscar soluções para os
problemas percebidos na escola.
Após,
observações, observações, socializações e debates nas reuniões semanais de
estudo, tivemos a ideia de nos aproximar ainda mais dos alunos indisciplinados
para mostrar que estávamos na escola para aprender de forma harmoniosa.
Procuramos então, modificar nossa forma de lidar com os “bagunceiros”, visto
que percebemos que eles queriam a todo custo chamar a atenção. Então, os
colocamos em posição de evidência, procurando elogiar a participação deles nas
atividades, evitando o foco reclamações a respeito do comportamento. Kramer
(2008) destaca a relevância do tratamento afetivo em sala de aula, na garantia
de ralações mais harmoniosas. Segundo a autora,
A afetividade exerce
influência sobre o comportamento dos alunos, pois, uma relação professor/aluno
baseada em sentimentos de confiança, respeito e admiração favorece o
estabelecimento de um ambiente escolar afetuoso e, consequentemente, promove a
disciplina em sala de aula (KRAMER, 2008, p. 47).
Embora cada
bolsista atue em salas diferentes a realidade da escola é semelhante a ponto de
poderem compartilhar uma nova metodologia, adotada após análise do contexto
escolar, quando percebemos que a maioria dos alunos “indisciplinados” não se
adaptava a organização do trabalho pedagógico e estava querendo chamar a
atenção para impor e expor suas discordâncias. Silva (2004, p. 189) esclarece
que “em síntese, tais indivíduos são indisciplinados e violentos por não concordarem
com a maneira como o professor está transmitindo o saber”.
Com intuito
de modificar esta realidade buscamos trabalhar o projeto “A leitura
como instrumento no processo de construção da cidadania”,com atividades lúdicas e
mais dinâmicas que permitissem aos alunos extravasar e descarregar parte da
energia acumulada, ao mesmo tempo em que aprendiam os conteúdos escolares e a
respeitar regras de convivência social e grupal.
O
projeto teve como objetivo geral: “Desenvolver habilidades relacionadas à leitura, interpretação
e produção textual, estimulando no educando o gosto pela leitura e escrita,
ampliando o conhecimento linguístico e cultural dos mesmos, contribuindo dessa
forma para a formação de valores e para a construção da cidadania”.
Uma das atividades
que elaboramos para trabalhar na escola foi em comemoração ao dia do “folclore”,
preparamos apresentações com trava línguas, provérbios, adivinhações,
brincadeiras, cantigas e histórias para apresentar para os alunos. Foi muito
interessante, percebemos que eles gostaram, inclusive os professores que
continuaram utilizando algumas atividades em suas aulas, já que os alunos se
mostravam interessados e, portanto, mais participativos e menos
indisciplinados.
Durante as
intervenções, o que mais atrapalhava o desenvolvimento,como já foi citado, era
a indisciplina, visto que os alunos ficavam todo o tempo, conversando,
brincando, bagunçando, e chegavam até a serem agressivos uns com os outros.
Para tentar estabelecer uma boa relação com eles, procuramos nos basear na
afetividade, colocando os que percebíamos que davam mais trabalho, para se
ocupar com alguma tarefa.
Nossa
intenção era fazer com que todos se envolvessem nos trabalhos propostos, e
acreditamos que, apesar de todas as dificuldades encontradas, conseguimos
desenvolver satisfatoriamente as atividades. Havia sempre o objetivo de realizar
atividades que fossem dinâmicas para despertar e prender a atenção dos alunos,
para minimizar a ocorrência da indisciplina.
Considerações
Finais
É preocupante
a situação dos alunos que pouco se comprometem com os estudos, pois, muitos
deles só estudam na escola e não possuem acompanhamento familiar nas atividades
escolares. E, não por acaso, não raras vezes são os pais dos alunos mais “indisciplinados”
que não fazem um acompanhamento de como tem sido o desempenho do filho na
escola. São, por isso, geralmente, crianças carentes de afeto e atenção
familiar cuja origem não cabe neste estudo abordar.
O PIBID permite ao
bolsista refletir sobre a práxis pedagógica, sendo assim, é possível inferir
que, as atividades desenvolvidas ao longo do projeto foram significativas,
visto que, ocorreram situações de aprendizagens enriquecedoras entre bolsistas,
professores e alunos, e o enfrentamento exitoso das dificuldades encontradas, especialmente
no que se refere a indisciplina.
Salientamos, por fim, que
a participação no PIBID permitiu uma reflexão acerca da indisciplina como fator
a ser superado em sala de aula para que o professor possa desenvolver sua
prática de maneira satisfatória, visto que,antes de iniciar a aula é comum o
educador perder muito tempo somente para organizar a turma. Percebemos que a
aproximação direta do professor com os educandos de forma afetiva contribuiu
efetivamente para a redução da indisciplina nos momentos de atuação dos
bolsistas em sala de aula ou em oficinas pedagógicas.
Referências
LUÍS,
Suzana M. B. Da formação à ação: o PIBID-UFAL como processo reflexivo da
formação docente inicial e continuada. IN: SANTOS, L. de F.; SILVA, S. R. P.
da; LUÍS, S. M. B. (orgs.). Universidade
e Escola: diálogos sobre formação docente. Recife: Ed. Universitária da
UFPE, 2012.
KRAMER, Sonia. Alfabetização, leitura e escrita: Formação
de professores em curso. São Paulo:Ática, 2008.
SILVA, Silva. Ética, indisciplina e violência nas
escolas.3 ed. Petrópolis, Rio de Janeiro: Vozes, 2004.
REGO. T. C. A
indisciplina e o processo educativo: uma análise na perspectiva vygostskiana.
In: AQUINO, J. G. (Org.). Indisciplina
na escola: alternativas teóricas e práticas. São Paulo: Summus, 1996.
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