quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

“Minhas primeiras impressões sobre a escola”


Cheguei à antiga Escola Dona Lúcia, atual Escola Municipal Edirani Pacifíco Góes e ao adentrar os portões tive uma terna lembrança que me causou conforto, senti-me em “casa”. Reunimo-nos na sala dos professores e, logo em seguida, nossa supervisora nos direcionou as salas. Quando entramos percebi certa tensão, acho que a apreensão maior foi minha e imagino que também tenha sido de minha colega, afinal de contas foi à primeira vez que entrei em uma sala naquela condição. Logo fomos apresentadas a professora que nos recebeu destinando-nos muita atenção e nos apresentou aos seus alunos que se preparavam para fazer prova, lembrando-lhes que nós éramos as professoras de que ela tinha lhes falado. Tentamos não incomodar, nos dirigimos ao final da sala e nesse momento os alunos nos observavam atentamente, logo vi uma garota que de imediato me chamou a atenção, me olhava com um olhar investigativo... Quando olhei em seus olhos, sorriu meigamente para mim, me senti aceita, relaxei e devolvi o sorriso.
Sentamo-nos silenciosamente, a professora lia explicando em voz alta a prova de Ciências que eles fariam naquela tarde. Seu tom alto me incomodou... Tenho problemas alérgicos respiratórios que às vezes me causa um pouco de dificuldades com a minha voz, fiquei imaginando como seria meu comportamento em uma turma como aquela, como eu resolveria a “tensão” da necessidade de gritar/falar alto.
Observei a prova que estava sendo aplicada. Vi que continha dez questões (três folhas) e que as mesmas eram cheias de gravuras, tão diferente de minha época. Acho que eles economizavam no papel e nas figuras também (rsrsrs), eram formais e frias.
            No decorrer da prova percebi que o que acontecia ali era muito diferente não só na forma de elaboração da mesma, mas, durante todo o tempo o clima da professora com os alunos parecia ser harmonioso, descontraído. Os alunos andavam várias vezes pela sala indo em direção a mesa da professora, que tirava prontamente suas dúvidas a respeito das questões da prova. Na condição de observadora não tive como não fazer uma comparação com o que vivi... Obviamente não comentei com ninguém esse detalhe que me intrigou. Fiquei pensando que, se na minha época os professores nos orientassem no momento da prova daquela maneira, com certeza nossos desempenhos teriam sido melhores. Indaguei-me tentando desconstruir meus conceitos e pré-conceitos, se aquele modo era o mais certo ou se a forma fria e distante como meus professores se comportavam no momento das provas estava errado. Eles liam a prova e pedia silêncio na sala, o resto era com os alunos onde cada um tinha que se virar. Lembro-me que, muitas vezes, quando eu ficava por último na sala, tinha vontade de chorar, “eles esperavam nossos resultados” e demorar mais que os outros, na sala, era apavorante.
Como não tinha muito que fazer, além de observar, comecei a notar alguns detalhes da sala. O chão ainda é daquele vermelhão, vi que não é apagado e nas paredes tem marcas de cera o que demonstra cuidados com a limpeza. Imaginei que naquele espaço de simplicidade de uma escola pública, adoçado por mimos de cuidados, teria sido cenário de muitas histórias...  A sala era bem organizada, na mesa da professora tinha toalha! Tem filtro cerâmico com copos plásticos, os alunos podem beber água fresca a qualquer momento. No meio da simplicidade também tem tecnologia, TV e DVD. As paredes são decoradas com materiais educativos organizados em cantinhos, tem cantinho que detalha o que é proibido (maus hábitos) e o que é permitido (as boas maneiras), tem outro, que organiza as letras em ordem alfabética e lá são identificados os alunos da sala, percebe-se identificação, valorização, afirmação de identidade e familiaridade.
Os alunos iam terminando as provas e eles mesmos pegavam livros de histórias, em uma caixa que foi delicadamente forrada para decoração da sala. Eles liam enquanto aguardavam a chegada da merenda e a liberação da turma. Uns terminavam mais rápido, outros demoravam mais. Fiquei observando-os, imaginando suas histórias, de suas famílias... Tive um pouco de angústia ao pensar sobre o futuro delas. Um aluninho me chamou a atenção, era todo invocado. Tinha um corte de cabelo “estiloso” tipo moicano e pintado luzes, usava uma volta imensa e pesada que continha um pingente. Sem querer estigmatizar, fiquei pensado nos referenciais que serão tendenciosamente decisivos para aquele tão jovem garoto.
Fazia muito calor, as cadeiras eram duras. Pensei na diferença entre o ambiente da Universidade e o da escola, imaginei o palco que provavelmente não será resfriado por um aparelho de ar condicionado, onde atuaremos colocando as teorias aprendidas em prática.
Quando os alunos saíram conversamos com a Professora Elizangêla responsável por essa turma do 3º ano. Ela nos informou que a turma conta com 23 alunos dos quais 08 apresentam dificuldades com escrita, leitura e interpretação, não sendo compatível com os rendimentos dos demais colegas, o que impõem ao ritmo de seu trabalho um pouco de lentidão.  Falou-nos do impedimento de reprovação desses alunos.
Após lanche realizado na sala dos professores, iniciamos uma reunião que contou com a presença de todas as professoras, diretora, e a equipe do PIBID. Nossa supervisora deixou a palavra em aberto para que fossem externadas as principais reclamações referentes às dificuldades da escola, assim como, suas possíveis soluções. Logo de início foi evidenciado seu maior desafio: as dificuldades de leitura, escrita e interpretação, agravados pelas restrições impostas pela Lei 9.394/96 que dispõem, dentre outras coisas, sobre a não reprovação dos alunos.  Inclusive foi citado casos de alunos que foram inseridos na escola, sem se quer, ter passado pela pré-escola.
Foi pedido para que sejam trabalhadas atividades que levem a socialização dos alunos, com ênfase no conceito de cidadania, tendo em vista a violência e a agressividade presente nos locais onde vivem e que são refletidas em seus comportamentos na escola. Segundo as professoras, os alunos já têm conhecimentos sobre a existência das drogas, também por estarem presentes em suas realidades. Por isso, faz-se necessário o desenvolvimento de atividades educativas que abordem estas questões, intencionando por meio da conscientização, livrá-los desse caminho. 
Outro ponto apontado com potencializador das dificuldades na escola é a ausência das famílias que “deveriam atuar como parceiras da escola”. Também foi pedido para que fossem desenvolvidas atividades que envolvam a sexualidade, presente cada vez mais cedo na vida das crianças.
Por fim, foi sugerido que fosse feito um “projetão” como o tema central “cidadania” e que, a partir dele fossem puxados ganchos que se ligassem a outras temáticas.

Milena Alves Ferreira
Bolsista de Iniciação à Docência PIBIB/UESB/Pedagogia



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